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Paz por meio da

Música

Rodrigo Félix

Por Bruna Cruz

O músico Rodrigo Félix mostra a delicadeza sonora por meio da samponha| Foto: acervo pessoal

Rodrigo Félix tem uma agenda pautada pela música. Além de musicoterapeuta é multi-instrumentista e educador musical. Apesar da correria, ele não abre mão de todas as quintas dedicar três horas para ensinar crianças que vivem no Vicente Pinzon e no morro Santa Teresinha. Ao longo da carreira, Rodrigo percebeu que não bastava se dedicar no trabalho para se sustentar. Ele queria ir além disso, pois percebia a necessidade de ajudar crianças e transformar a sociedade. Então, com entusiasmo e esperança, resolveu utilizar seu empenho próprio para educar, musicalmente, crianças em associações.

O amor pela música surgiu quando ele ainda era menino. Desde pequeno, Rodrigo Félix ia à igreja e observava atento o ministério de louvor que tocava nos cultos. Até que sua mãe o levou para o projeto social onde trabalhava. Lá, Rodrigo fez aula de pintura e esporte.  “Lembro como se fosse hoje: eu estava no projeto, numa oficina da construção de brinquedos de madeira, quando ouvi o som da flauta vindo do auditório. E, quando percebi era o professor de música que estava tocando, foi a partir daí que desejei me envolver com a música”, disse.

 

E não parou por aí. Rodrigo, estudou no Conservatório de Música Alberto Nepomuceno, participou na banda de música do Sesi e aprendeu a tocar flautas, saxofone, gaita, teclado, violão, baixo, bateria, percussões, charango, ukulele e cavaquinho. Até que se formou pela faculdade de música da Universidade Estadual do Ceará e realizou a pós-graduação em musicoterapia no Instituto GRADUALE. A partir de agora, o músico toma a palavra e fala sobre a experiência transformadora por meio da música.

A VISÃO DE UM EDUCADOR
Rodrigo toca a flauta da civilização andina: a quena|  Foto: acervo pessoal
O músico domina a arte de tocar saxofone com excelência| Foto: acervo pessoal

Como educador musical e musicoterapeuta, tenho a visão de que a música é uma ferramenta muito forte na reabilitação. Tanto nessa parte cognitiva, do conhecimento, quanto nessa parte motora, dos movimentos, e, também, emocionalmente. Aqui, na associação, a gente trabalha na parte social. Através das aulas de música, eles aprendem muito mais que as simbologias musicais ou tocar um instrumento, eles aprendem o que é ser um cidadão de bem. Com uma boa estratégia e disciplina, os alunos descobrem quais são os seus direitos e deveres. A música se tornou, apenas um gancho para desenvolver outros trabalhos.

A equipe que trabalha cuida de indivíduos que estão vulneráveis, pois eles moram em áreas de risco, onde a violência, o abuso e a exploração se instalam. Quando não tem uma política pública que assista às necessidades delas, tem o perigo nas ruas. Nesse contexto, a importância da música dentro de um projeto social é fazer com que essa criança ou adolescente saia das ruas e ocupe espaço na Associação.

 

A música é, simplesmente, uma ferramenta de inclusão social e reabilitação, utilizada com o intuito de transformar vidas, e não, apenas, ensinar musicalmente com fins estéticos. A primeira característica que costumo observar no aluno é se ele se sente bem e interage com a turma ou, do contrário, se sente retraído. 

 

A partir daí, vejo outros campos que ele pode seguir na atividade, para que não fique prejudicado e acompanhe, de forma correta, as aulas da classe. Nas escolas, por vezes, o principal objetivo das aulas de música é preparar as crianças para apresentações. Não é que seja ruim, mas não deve ser meu foco principal. Eu olhava como educador musical que vê fins estéticos.

 

O que preciso colocar como objetivo central não são esses resultados. Não deixa de ser errado, mas com o meu olhar terapêutico eu vejo, como resultado, o desenvolvimento que aquele indivíduo tá tendo, se aquilo tá sendo prazeroso pra ele, pra mim o mais importante é que aquela criança esteja participando das aulas, que a auto- estima dela esteja lá em cima, que ela esteja com um desenvolvimento bom tanto no projeto, na sala de aula, quanto no comportamento lá fora, na escola e em casa.

A prática de música ensina a criança sobre regras de convivência e, principalmente, sobre disciplina. Também, ensina sobre saber falar e ouvir. Quando você toca, você está falando, e quando o outro toca, você está ouvindo o que ele tá fazendo, né? Então, tem essa troca. É uma via de mão dupla.

 

É legal mostrar pro público o resultado estético da aula. Mas, na realidade, o resultado final, que considero, é quando aquela criança tem boas notas, bom comportamento. Quando o pai chega pra dar o feed back dizendo que ele melhorou bastante, ou que ele tá menos arredio e tá mais obediente. Tá mais caseiro, tá em casa fazendo as tarefas direitinho e tá estudando os instrumentos.

É muito prazeroso quando um pai chega e fala pra mim: “O meu filho melhorou, o meu filho tá legal”. Isso pra mim é um resultado muito bacana! Como meu trabalho tá iniciando, aqui, na AMI, acredito que eu ainda tenho muitos bons frutos a serem colhidos. Mas, a gente percebe essas mudanças nas atitudes deles, né? Quando eles me veem lá na esquina e falam com um sorriso no rosto: “ E aí tio, beleza?” Esse respeito que o aluno vai ter com você é muito importante, porque é um reflexo, é um espelho, é uma resposta de que ele também tá se sentindo respeitado, porque quando ele respeita ele tá sendo respeitado, quando ele desrespeita é porque ele está sendo desrespeitado. Então, é apenas um reflexo. Não só comigo, mas também dentro de casa.

A gente precisa trabalhar com essa questão de incentivar a criança a amar e se alegrar com nosso trabalho.
A MAIOR MOTIVAÇÃO É HUMANIZAR

Encontro muitas dificuldades no meu trabalho em relação às crianças. Uma parte delas chegam aqui desmotivadas. Muitas vezes pela questão cultural ou estrutura familiar, a criança não consegue enxergar que o serviço que oferecemos vai ser bom para progressão dela.

 

Por esse motivo, a gente precisa trabalhar com essa questão de incentivar a criança a amar e se alegrar com nosso trabalho. Por mais que o aluno não queira, precisamos encontrar uma forma de chamar a atenção dele, porque daqui a alguns anos, eles vão perceber que a música é capaz de transformar vidas, e para melhor. Minha motivação são as crianças.

 

Não me importo com a questão salarial, mas com o humanismo. Me proponho a ser educador musical e musicoterapeuta porque coloco o indivíduo como alvo principal de o servir através do ensino da música. O que me deixa contente, é ver o bom desempenho no instrumento, porque sempre procuro analisar além da questão estética, vejo, também, o que a criança quer transmitir através do instrumento que serve como uma extensão do pensamento.

Quem somos

Além de estudante do sexto ano de jornalismo, sou cantora, apaixonada por sons de boa qualidade e, por isso, sou leitora voraz de histórias da música. Nasci no Pará, mas meu coração bate forte pelo Ceará. Tenho muito interesse pela arte nordestina e pelo jornalismo cultural.

Bruna Cruz

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